Monday, August 17, 2009

Sobre rodas

Entonces, eu tinha inventado que queria comprar patins. Tive a idéia ainda em São Paulo, pra andar no Villa Lobos, mas não cheguei a pensar muito nela. Chegando aqui em pleno verão, a vontade voltou. Devo estar há um mês falando disso e o Tiago não deve mais aguentar. Já contei pro meu pai e pra minha mãe e fiz muita pesquisa na internet. Descobri, por exemplo, que 10 pessoas morreram na cidade na última década por causa dos patins. Cinco foram atropeladas, e outras cinco caíram e bateram a cabeça - e não teriam morrido se tivessem de capacete.

Daí começou minha lista:

* patins
*capacete

Mês passado vi uma patinadora ser atropelada por um ciclista. Nada grave, mas o cotovelo dela ficou todo ensanguentado. Aumentei a lista:

* joelheira, cotoveleira e proteção pro pulso

Fim da lista, comecei a procurar o patins. Achei exatamente o que queria na Amazon, mas daí veio o medo de comprar na internet e o treco não ficar legal no meu pé. As resenhas no site elogiam bastante o patins escolhido, dizem que é pra se guiar pelo número do sapato que dá certo, etc. Ainda assim, resolvi ir a uma loja - vamos fazer tudo certinho, né?

Escolhi uma loja especializada em skate e patins. Entro, e o primeiro andar é lotado de roupas de skatista. Olho para os lados, e todos os vendedores usam boné e camiseta larga. Ninguém vem me atender, e eu procuro sozinha a seção de patins. Que se resume a uma micro parede. Olho, olho e chamo um vendedor-skatista. Faço perguntas básicas, digo que quero começar a patinar, e o cara me diz que, "pra iniciante", só tinha um patins. Não gosto da cara do bicho. Conto do meu patins na internet. O skatista me olha desconfiado e pergunta a marca. "Rollerblade", respondo. "Tem certeza? Nunca ouvi falar de um Rollerblade com esse nome". E empacamos aí. Resolvo mudar de assunto. "E preço? Qual a variação de preço?". "Ahhhh, você não consegue um patins decente por menos de 200 dólares", diz ele. Oi? Não, não quero pagar isso tudo não, moço. Mas resolvo não levar a conversa adiante. Saio com a impressão de que estas lojas especializadas devem ser ótimas pra quem é super entendido, mas só complicam a vida de quem quer simplesmente andar de patins nos fins de semana na ciclovia perto de casa.

Sigo para outra loja. Esta, uma das maiores lojas de esportes de NY. Me perco no meio do caminho, é claro, mas acabo encontrando o diabo do lugar. Entro em um mundo de bicicletas, luvas de boxe e roupas de mergulho, e, láaa no finzinho, acho o buraco onde ficam escondidos os patins e skates. Um cara atrás de um balcão monta um skate; outro está mostrando patins para um casal. Legal, penso eu, é nele que eu vou. Enquanto espero o casal ser atendido, vou olhando os equipamentos de segurança. Quando volto a olhar pro vendedor, há outras três pessoas querendo comprar patins. Que êsso, gente? Lotação! Desisto da atenção do vendedor, mas resolvo ouvir as explicações dele pro povo - que são basicamente as mesmas explicações do skatista da primeira loja. Este novo vendedor gosta de se gabar de sua habilidade com os patins. Mostra o modelo preferido. "Venho do Brooklyn até aqui com ele!", conta. Legal, moço, mas dá pra me atendeeeer por favoooor. Sem receber atenção, volto pro canto e tento testar a cotoveleira, e descubro que nem isso sei fazer direito. De que lado é pra enfiar? Resolvo que não vou comprar porcaria de patins nenhum ali, vou comprar na internet, mas que vou olhar os capacetes (muito importante!).

Interrompo o vendedor-patinador e digo: "Eu poderia estar roubando, poderia estar matando, mas estou aqui humildemente pedindo a sua atenção".

Brincadeira, claro que eu não disse isso. O que eu disse foi:

"Oi. Eu queria comprar um capacete pra andar de patins".

E ele (com cara de desprezo):

"Os capacetes estão ali naquela parede"

"Ahm, eu vi (não sou cega, sabe?). Mas queria uma ajudinha. Não sei qual é bom"

"Todos são bons" (já sem paciência). "Você experimenta. Se ficar grande, tá ruim. Tem que ficar certinho".

"Ahhhh, thanks", respondo, abaixo a cabeça e me recolho a minha insignificância.

Experimento o capacete médio, e fica grande. Experimento o pequeno, e fica pequeno. Frustração total: tenho uma cabeça intermediária, pelo visto. Resolvo que não vou comprar mais patins nenhum. Vou é andar a pé mesmo, e olhe lá.

***
Chegando em casa, conto a história pro Tiago, que me anima a comprar o patins. Penso, penso, e, antes de dormir, entro na Amazon e compro tudinho - até uma bolsa pra guardar os bichinhos. Acordo o pobre coitado do Tiago, que já dorme feliz, pra contar a novidade. E quase não consigo dormir de excitação, que nem criança que sabe que vai ganhar o presente que mais queria de Natal.

Acordo hoje de manhã, olho meu e-mail e... meu cartão de crédito foi recusado. Nãaaaaao! Não é possível, penso. É um sinal pra eu não andar de patins, só pode ser. De novo, o Tiago me convence que é só coincidência. Tensa, entro no site do banco e vejo números em vermelho. "Ahhhh. To no vermelho", grito. E lá vem meu querido marido correndo (poque ele sabe que os meus maiores medos são borboletas, pombos e entrar no vermelho). Alarme falso, não estou no vermelho. Entro na Amazon e descubro que botei a validade do cartão errada - era mês 10, escrevi 6. Ufa.

Finalmente comprei meu novo brinquedinho. Daqui a alguns dias, quando ele chegar, eu conto se fiz um bom negócio ou uma grande burrada.

3 comments:

  1. uhahuauauauhhuaa
    Vc é uma comédia msm ! Cuidado com esse patins einnn,ja vi q vai ficar toda roxa ! uhahuahu
    Bjo grandeee Le,e manda um abração pro Thiago

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  2. hahahahahahahahahahaha eu acho que não sei mais andar de patins.

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  3. ai, Be, o papai acha que eu vou atropelar todo mundo por aqui. Vocês não levam fé em mim mesmo... (mas concordo que vou ficar roxa)

    Panguita, e você acha que eu lembro como anda de patins? Hahahaha. Vou ter que reaprender...

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