Friday, January 29, 2010

Das pequenas coisas

Meus vizinhos não falam muito. "Bom dia" no elevador é algo raro. Normalmente você cruza com eles na portaria, na salinha das caixas de correio, no corredor, na academia, e eles evitam ao máximo o contato visual. Se você força, eles acabam dando um aceno de cabeça meio tímido. No começo eu ficava meio irritada. Tudo bem, nunca fui de ter "amigos do prédio", mas sou a favor das relações educadas com direito a segurar a porta do elevador e falar "oi" e "obrigado".

Por isso me espantei hoje quando chegava em casa. O vizinho que estava mais perto da porta do elevador, em vez de entrar, ficou do lado de fora e segurou a porta para que eu e outra vizinha entrássemos. Nós agradecemos e eu já estava achando aquilo o máximo da educação. Mas aí chegou no andar dele e ele não só se virou para nós como sorriu e nos desejou um bom fim de semana.

Vou falar que fiquei quase emocionada.

Thursday, January 28, 2010

Evolução (ou: Descobrindo a TV digital)

Nós temos DirecTV. E eu passei os últimos seis meses reclamando da DirecTV. Não acho que as outras operadoras de TV fechada sejam menos piores. Mas escolhemos esta, então eu só posso reclamar dela. O primeiro problema foi o preço. A propaganda te diz uma coisa, e quando você vai ver tem que pagar um bolo de taxa extra. Ou seja, sai caro. O segundo problema foi a infinidade de canais. Pra que tanto canal, meu Deus? Nem sendo o maior desocupado do mundo é possível assistir a todos os canais. E decorar os números? Sei que a CBS é 2 e que a CNN é 202 e que a Fox News fica perto do 350 e alguma coisa... e por aí vai. Não sei nem o meu celular de cor, quanto mais os canais da DirecTV - o que me fez passar a ver menos TV, porque não tenho lá muita paciência de ficar descobrindo os canais.

E comecei a me irritar mais ainda quando, depois de três meses em que tínhamos direito a um pacote "extra" com um monte de HBO e outras cositas más, passaram a cobrar instantaneamente pelo pacote. Nunca nem tínhamos olhado estes canais extras, que ficavam depois do número 500 do controle remoto. Peguei a conta e mostrei para o Tiago, ressaltando o absuuurdo daquilo. Ele concordou e prometeu ligar para cancelar o pacote mas, curioso, foi espiar os canais. "Mas a HBO é tãaaao legal", comentou dias mais tarde, deixando claro que não mais ligaria para cancelar.

Mas eis que o tempo passou e meu coração foi amolecendo. Descobri, meio sem querer, que se estou vendo um filme e preciso atender o telefone, posso simplesmente pausar o programa. Sim, pausar! Se não entendi uma fala em algum seriado, posso voltar aquele pedaço.

Na semana passada, comprei ingressos para ir ao basquete. O Tiago logo reclamou: "Mas terça-feira é dia de American Idol...". E eis que resolvemos testar se era possível gravar o programa - já que podemos pausá-lo, tudo era possível. Sentei na frente da TV, respirei fundo e me preparei para entrar em um complexo processo de aperto de botões do controle remoto. Lembro até hoje do inferno que era gravar um programa no vídeo cassete: bota a fita, escolhe SP, EP ou sei lá mais o Q, vai apertando até aparecer a hora de começar, depois clica na setinha pra ir pra hora de terminar, depois dá uma rodadinha e joga as mão pro alto, reza três Ave Marias e pronto... você chega em casa e descobre que esqueceu de fazer uma coisinha besta e o programa não gravou. Então qual não foi a minha surpresa quando simplesmente selecionei o programa e cliquei no botão R (de Rec) e voilá. Funciona assim: apertando um botão. Unzinho só.

Enfim, tudo isso pra dizer que estou começando a amar a minha TV.

Thursday, January 21, 2010

Diálogo Hein

Vou entrar em um restaurante e quase tropeço em um pequenino cão na porta. Amarrado pela coleira, o simpático pug, sem notar que por pouco não foi atropelado, olha para mim com cara de - desculpem a falta de originalidade - cachorro abandonado. Meu coração derrete. Abaixo para fazer carinho nele, e ele pula em mim, nervoso em busca de atenção; consigo ouvir até aquele chorinho canino fino. O Tiago (que não liga para cães) apenas observa a cena. E uma mulher que passava pela calçada se posiciona ao lado dele e, sorrindo, começa a falar enroladamente sobre o meu momento com o pug.

Nós ignoramos a mulher, pelo simples motivo de que não entendemos nada do que ela fala. Até que finalmente compreendemos uma pergunta:

Mulher: é menino? (ela não usa o termo "male", mas "boy")

(eu continuo brincando com o cachorro. sei lá se é macho)

Mas o Tiago resolve responder, sério: Sim. (Hein?)

A mulher olha satisfeita para ele - conseguiu fazer contato! - e continua: É de vocês?

Tiago, curto e grosso: Não.

A mulher faz uma expressão de "hein?" e desiste de nós.

Monday, January 11, 2010

I see dead trees


Hoje vou tratar de um assunto muito sério: a matança das árvores de Natal. Confesso que achei bonito quando, em dezembro, vi o comércio de pinheiros. "Ó o espírito de Natal", pensei, ao passar pela calçada com cheirinho de floresta por conta das árvores verdinhas que esperavam para ser adotadas - por uma módica quantia - para abrigar os presentes de uma feliz família americana. E lembrei com desdém das árvores de plástico que compramos nas Lojas Americanas e que duram anos e anos, sempre iguais, sem cheirinho de floresta.

Mas o Natal passou, companheiros, e com o Ano Novo chegou o Dia de Reis, conhecido também como dia-de-desmontar-a-árvore-de-Natal. Tirando um vizinho do prédio aqui da frente que resolveu transformar seu pinheiro em parte permanente da decoração da sala, não vejo mais luzinhas nas outras janelas. E eis que me deparo com este cenário desolador nas ruas: dezenas de árvores empilhadas nas esquinas à espera da coleta de lixo. Triste, muito triste. Os pinheiros, agora não tão verdinhos, usados e gastos, tiveram apenas algumas poucas semanas de atenção de suas famílias adotivas. Cumpriram sua missão na Terra e agora são jogados sem piedade no lixo. Ó, Deus, tenha piedade!

Ok, mas falando sério: passei a ter mais respeito pelas árvores de plástico das Lojas Americanas.

Saturday, January 9, 2010

O primeiro do ano

Alou, 2010! Andamos sumidos por conta de uma gripe que vem se revezando entre o casal. No reveillon foi a vez do Tiago, agora é a minha vez. Estranhamente, na vez do Tiago a gripe passa mais rápido. Vai entender essa implicância comigo...

Resumidamente, não temos feito quase nada neste começo de ano. Gripe + frio = casinha quente. Temos saído bem pouco - ir ao cinema no quarteirão aqui do lado não conta, né? Hoje, apesar dos apelos do Tiago para que eu fique de molho até que minha horrorosa tosse passe, fomos passear no MoMA. Pode deixar que tomei cuidado e só tossi com a mão cobrindo a boca, para não passar minha doença aos queridos turistas que lotam todos os museus da cidade. (Sim, já me sinto no direito de reclamar dos turistas)

Mas na verdade não entrei aqui pra contar da visita ao MoMA ou da minha gripe. É que lembrei que não contei nada sobre a noite de Ano Novo e achei que devia contar. Nós voltamos de viagem no dia 30 porque eu inventei que fazia questão de passar a virada olhando a bola caindo na Times Square. O meu marido ideal perguntou se eu não queria passar o Ano Novo em Paris, mas eu disse que "não, quero ver a bola". Se eu não conhecesse o Rio de Janeiro e fosse passar um Ano Novo lá, iria para Copacabana. Morando aqui, tinha que ir para a Times Square, certo?

Então lá fomos nós e nossos casacos impermeáveis. Um frio do cacete e uma chuvinha chata nos esperavam do lado de fora. Pegamos o metrô, conseguimos achar o caminho, passamos pelo complexo esquema de segurança e chegamos ao nosso destino. Quer dizer, mais ou menos chegamos ao nosso destino. O problema, curiosamente, não era a multidão; o problema era o excesso de organização. Os cuidados com a segurança são muitos, e a polícia fecha as ruas para controlar a entrada das pessoas e garantir que, em caso de alguma emergência, haja saídas livres. O que é bem correto, mas mata toda a espontaneidade e o calor humano do empurra-empurra em busca de um lugarzinho entre a multidão.

Além disso, não se pode entrar com álcool ou com mochila. Bem, depois de ter que abrir o casaco e enfrentar o detector de metais em duas barreiras policiais, um casal do meu lado bebia uma garrafa de champagne, enquanto umas três pessoas passavam felizes e contentes com suas mochilas. Ou seja, a segurança é falha e se alguém quiser fazer besteira, faz.

Depois das barreiras policiais, conseguimos entrar na altura do Central Park, na rua 59. A bola da Times Square, lá na rua 42, parecia uma bolinha de gude ao longe. E chovia. Alguns pingos de chuva viravam gelo. E não tínhamos álcool para nos esquentar e amenizar a sensação de programa de índio. Quando faltava uma hora para a meia noite, eu cansei. Olhei para o Tiago, que exemplarmente aguentava o mal-estar da gripe para que eu pudesse ver a bola de gude caíndo (o que diabos significa aquela bola caíndo?), e perguntei se ele queria ir para casa. "Sim!", respondeu ele, animado.

Demos meia volta e entramos no metrô mais próximo - uma estação pequenina, com apenas uma máquina de vender bilhetes e uma fila considerável para comprar os bilhetes. Como somos precavidos, tínhamos o equivalente a dois bilhetes no nosso cartão de metrô. O Tiago passou na catraca. Na minha vez, o cartão deu problema. O leitor eletrônico da catraca finalmente me deu a ótima notícia: o dinheiro no meu cartão havia sido engolido. Entro na fila para comprar um novo bilhete e vejo que a máquina não aceita notas, apenas moedas e cartões. Só tenho notas; não levei meus cartões para não correr o risco de perdê-los ou ser roubada - sim, continuo carioca. Enquanto eu e Tiago nos comunicamos aos berros separados pela grade da estação, tentando ter alguma idéia genial para não passarmos a meia noite separados, um casal enrolado tenta, sem sucesso, comprar seus bilhetes. E o resto da fila bufa de impaciência. Passaríamos todos o Ano Novo presos na estação? Nãaao. Quando menos esperávamos, apareceu um super policial que abriu o portão e deixou todo mundo entrar de graça! Olha que bonito. Todo mundo ficou feliz. E eu achei que pareceu cena de filme.

Finalmente chegamos em casa. O Tiago correu para a geladeira para pegar o champagne e eu corri para ligar a TV para vermos a bola de gude cair. E sabe o que aconteceu? A TV não funcionou. Juro que não funcionou. Tive que desligar tudo e "reconfigurar o modem", seja lá o que isso signifique. A TV voltou a funcionar 25 segundos antes de 2010, e vimos a bola cair com taça de champagne na mão e sem chuva na cabeça. Ficamos felizes. E, sim, pareceu cena de filme.