Monday, May 24, 2010

Sons da natureza

Dos problemas que a gente não acha que vai ter em Nova York: há três noites um pássaro animado atrapalha meu sono. Ele começa a cantar pelas 2hs da madrugada e tem um canto ritmado, daqueles que entram na sua cabeça. Na primeira noite, acordei com o barulho e não conseguia ententer o que era - a minha janela é anti-ruído, o apartamento é super silencioso. Quando abri a janela levei um susto: é muito alto o diabo do canto do pássaro. Espero que a festa dele não dure por toda a primavera...

Thursday, May 20, 2010

Qua!

Oi. Passei aqui pra contar que nasceram patinhos no laguinho aqui perto de casa. São as coisas mais fofas do mundo, os patos-bebês. Aí eu pensei que, desde que mudamos pra cá, há um ano, eu sempre visito os patos. Desde que eles sumiram, no inverno, nunca voltaram todos. Foi bem triste ver o lago congelado por meses. Recentemente, dois patos apareceram. Depois, mais dois. E, hoje, a surpresa dos bebês. Não sei quem deu pra quem. Contei oito mini-patos, mas acho que havia outros escondidos dentro de uma planta - que é onde eles dormem, I guess. Agora vou ter que voltar lá todo dia pra acompanhar o crescimento.

Wednesday, May 19, 2010

HipsterWorld


Há algum tempo eu queria conhecer Williamsburg. Minha amiga Elza, quando tomou posse do meu sofá-cama no início de abril, falou que tinham falado pra ela que tínhamos que conhecer Williamsburg. Acabou que, coisa demais pra conhecer em Nova York, não deu tempo, para a tristeza de Elza. Aí outro dia um moço que eu entrevistei pra uma pauta sobre a cidade citou Williamsburg como um lugar muito legal, com bares, artistas e, ele ressaltou, hipsters. Hip-o-que?, pensei - mas não perguntei, pra não perder a pose.
No último fim de semana, decidi que íamos conhecer o bairro - que, ainda não contei, fica no Brooklyn. Abri nosso querido Lonely Planet e lá estava Williamsburg (que para os íntimos é conhecido como Billyburg) e seus bares. Novamente, os hipsters eram citados. Eu, como não sou muderna, não sabia, como vocês já devem ter notado, o que eram hipsters. "Diz que tem muito hipster lá em Williamsburg", falei pro Tiago, que é menos muderno ainda. "Que isso?", foi a resposta. E passamos nossa tarde em Williamsburg decifrando os hipsters - quase assim um passeio antropológico.

Pra princípio de conversa, os hipsters, ao contrário de mim e do Tiago, são obviamente mudernos. Eles usam óculos Ray-Ban - muitas vezes com aro colorido -, calça beeem justa, cabelo com cara de que não é lavado há uma semana, às vezes chapéu. Até que eu gostei dos hipsters. No fim da tarde, achamos uma mini praça onde o povo vai ver o por do sol, e lá estava uma banda hipster gravando um clipe hipster. Alguns hipsters apareceram com suas bicicletas vintage, outros com seus vinis na mão - eles gostam de comprar vinis, notamos isso.

E o bairro tem realmente um clima legal. Era sábado, estava um dia bonito de sol e as ruas estavam cheias - de hipsters e, em menor número, de não-hipsters. Fomos na maior praça da região, a McCarren, onde vimos hipsters jogando bocha - não sei se é um esporte popular entre o grupo, mas acho que foi a primeira vez que vi pessoas da minha idade jogando bocha. Aliás, acho que nunca, na minha vida, escrevi a palavra bocha. Espero ter escrito certo.
Aí, só pra não deixar este post sem uma base, digamos assim, mais sólida, fui ao Santo Google ver o que significava hipster, e achei que é um povo que valoriza o pensamento independente, a contracultura, o progressismo político, a arte, a criatividade e a música indie. E, no quesito moda, gosta de tudo isso que eu botei aí em cima. E se você quiser achar um hipster, basta ir a Williamsburg. Ah, e na minha pesquisa internética achei esse site (clique aqui) com fotos de cães hipsters fofos.

A fotinha é de uma camiseta hipster que o Tiago achou num brechó em Billyburg - não, ele não estava no brechó por livre e espontânea vontade...

Monday, May 17, 2010

Gramercy, o não-parque

Adoro parques, praças e gramados em geral. E Nova York é cheia de gramados acolhedores. Gosto quando, num domingo de sol, os gramados ficam alegres, cheios de gente com -pouca - roupa colorida, gente com seus cãezinhos de estimação, gente lendo, fazendo piquenique, batendo papo, jogando frisbee... tem um povo que se anima de jogar futebol americano, mas isso eu já não gosto não, porque sempre fico com a impressão de que a bola vai, a qualquer momento, voar na minha cabeça. Nunca voou, mas eu ainda acredito que um dia ela chega.

Eis que hoje leio no jornal que existe um parque em Manhattan, chamado Gramercy Park, que é fechado. Dizem que é um parque lindo, mas só pode saber quem mora em torno dele, ou tem algum amigo que mora e é convidado. Ainda assim, cada morador só pode levar no máximo 6 convidados. A matéria do jornal dizia que um frequentador do parque está em pé de guerra com o pessoal responsável pela administração - ele não reivindica que o Gramercy seja aberto ao público; ele quer simplesmente que as regras de uso sejam menos rígidas. O último problema dele com o "conselho" - sim, já houve vários - foi a ideia de levar um grupo de 20 alunos de arquitetura e história da arte da Universidade de Columbia para conhecer o parque. No dia seguinte, ele recebeu uma mensagem repreendendo sua atitude, com direito a foto do "flagrante".

Quando comecei a ler a matéria, estava achando um absurdo o parque ser fechado. Ele funciona basicamente como um clube. Cada morador - ou melhor, cada família - do entorno tem direito a uma chave - desde que pague 350 dólares anuais por ela. Os proprietários dos terrenos em volta do parque pagam uma taxa de 3 mil dólares por ano para manutenção. Depois de tudo isso, vamos às regras: nada de animais de estimação, nada de frisbees ou bolas, nada de álcool, nenhum tipo de evento musical ou teatral que não seja organizado pelo "conselho". Noivos podem tirar fotos para o álbum de casamento, mas nada de convidados. E, na minha opinião, a pior regra de todas: nada de pisar ou sentar nos gramados. Ó que triste. Perdi completamente a vontade de conhecer o Gramercy e sua grama intocável.

(Na foto, o gramado na frente da nossa casa, onde pode pisar na grama - e jogar frisbee!)

Monday, May 10, 2010

Miroslav Tichý


Miroslav Tichý é louco. Ele é checo, tem 83 anos e vive sozinho em uma casa caindo aos pedaços em uma cidadezinha chamada Kyjov, de onde não sai por nada. Não sei quando ele ficou louco. Antes de começar a se comportar de maneira esquisita, digamos assim, Tichý estudou na Academia de Belas Artes de Praga, mas largou os estudos pela metade, abandonou a pintura e passou a andar pela cidade observando seu cotidiano e tirando fotos (muitas fotos) de seus habitantes. Ele andava com um casaco todo rasgado e remendado, barba comprida e tinha sempre nas mãos câmeras que fazia sozinho. Tichý fazia suas câmeras com sucata e polia as lentes com pasta de dentes e cinza de cigarro. Algumas pessoas da cidade tinham medo dele, outras achavam que ele apenas fingia que tirava fotos. Algumas vezes Tichý foi preso e passou períodos em um hospital psiquiátrico.

Reza a lenda que, alguns anos atrás, um psiquiatra cuja avó morava em Kyjov voltou à cidade e visitou o velho. Ao entrar em sua casa, levou um susto com a quantidade de fotografias sujas e manchadas espalhadas pelo chão, mas viu ali obras de arte. Este psiquiatra criou a fundação Tichý Oceàn, fez um documentário com o fotógrafo e tornou-o conhecido. Há, porém, uma outra versão, contada por uma mulher que passou a cuidar de Tichý depois que sua mãe morreu. Ela diz que o psiquiatra é um aproveitador e que o fotógrafo nunca teria lhe dado permissão para as exposições. Mas esta já é outra história...

Voltando às fotos, elas são, em sua grande maioria, de mulheres e meninas. São, muitas vezes, desfocadas e mal recortadas. Mas são fascinantes. Eu conheci Tichy - não ele, porque teria que viajar a Kyjov, mas seu trabalho - há poucos dias, em uma exposição no International Center of Photography aqui em Nova York. E fiquei intrigada com ele, com sua loucura e com sua genialidade. Suas fotografias foram expostas na Bienal de Artes de Sevilla, em 2004, e no Centre Georges Pompidou, em Paris, em 2008, e esta foi sua primeira mostra em um museu americano. No documentário que acompanhava a exposição - que acabou no domingo, sinto dizer - Tichý diz que fotografar nada mais é que pintar com luz.

Tuesday, May 4, 2010

El secreto de Mis ojos

Fomos ver El Secreto de tus Ojos (ou The Secret of their Eyes, já que estamos em NY), o filme argentino que ganhou o Oscar de melhor filme estrangeiro. Fomos no Angelika, um cinema que fica no subsolo e, quando passa o metrô, ele treme. Na primeira vez que fui lá levei um susto; hoje em dia acho engraçado ouvir aquele barulhinho de metrô ao fundo.

Mas o que queria contar mesmo é que nunca tinha visto filme em espanhol com legenda em inglês. E sabe o que aconteceu? Deu um caimbra no meu cérebro. Passei uma meia hora sem saber se olhava para a legenda ou prestava atenção no que os atores falavam. Eu entendo um pouco de espanhol, mas não tudo. E por mais que fale inglês, não é a minha primeira língua, não é tão natural quanto português. Enquanto tentava ler as legendas, acabava ouvindo também as falas. E a estrutura das frases é ao contrário! E junte-se a isso a sala tremendo com o metrô. Confuso, muito confuso...

Sunday, May 2, 2010

(Quase) Cabum

Vocês viram o carro bomba ontem na Times Square? Eu não. Estava pertinho, e não vi nadica de nada. A gente foi ao teatro, nove ruas acima de onde estava o carro. Estávamos atrasados, saímos do metrô correndo e não notamos nada estranho - as sirenes irritantes e intermináveis são algo normalíssimo. Depois do teatro, fomos comer ali pela região, e reparamos pessoas andando no meio de uma rua.

"Olha, Ti, pessoas andando no meio da rua", disse eu.
"É, ta fechada a rua, ta vendo? Não ta passando carro", respondeu ele.
"Ah, é", encerrei o assunto.

E foi isso. Atravessamos a rua fechada e fomos comer um belo hamburguer na esquina seguinte. Só quando chegamos em casa é que vimos as notícias.

Hoje fiquei desapontada que ninguém ligou pra saber se estamos bem.

"Nem nossos pais...", comentei com o Tiago.
"Mas a bomba não explodiu! Se tivesse explodido, aposto que eles ligavam", respondeu ele, me consolando.