Wednesday, July 20, 2011

Táxi

O táxi para no sinal. Vem o vendedor ambulante, mãos carregadas de carregadores de celular. Cumprimenta o taxista e segue em direção aos outros carros.

Sabe esse homem aí? É vendedor nesta mesma esquina há vinte anos. Eu não sei o nome dele, ele não sabe o meu, mas a gente se reconhece todo dia, diz o taxista.

O trânsito flui, o monólogo continua. Na próxima esquina tem a eterna vendedora de flores, e por aí vai, até se transformar em constatação:

Aqui em São Paulo tem trabalho pra todo mundo. Quem quiser, trabalha. Pode juntar latinha e papelão na rua, pode comprar refrigerante no mercado e vender num isopor no engarrafamento, pode fazer o que quiser, que no fim do dia ganha um dinheirinho. Só não trabalha quem não quer, quem quer dinheiro fácil. Mas esses são punidos, pela justiça do homem ou pela justiça divina. Não falha.

No banco de trás, ela pensa em como é furada a teoria. E clichê. Cita os políticos, para continuar no clichê. Ah, os políticos também são punidos, continua o taxista. Vê aí o Quércia, morreu novo. E o Pitta.

Mas e o ACM?, ela arrisca. Ele rebate: Ah, deve ter sido punido também. A gente é que não sabe.

E volta a sua teoria. Aqui, tudo o que a gente planta a gente colhe, pode ter certeza, diz. Vê se tem coisa melhor do que criar os dois filhos e ver os dois passando no vestibular? Se tem coisa melhor que ter cinco veias entupidas e conseguir dirigir até o hospital?

Ela pensa em responder, mas desiste. Ia dizer que melhor seria não ter as veias entupidas. Mas pede apenas que ele encoste à direita.