Tuesday, December 14, 2010

Benzadeus

Olha, eu vou dizer pra vocês: a bruxa está soltinha da Silva. Nos últimos cinco dias, recebi notícias de pelo menos 6 pessoas que tiveram ou terão que passar por cirurgias. Teve gente que caiu, gente que sofreu acidente, gente que ficou doente. Um coisa horrível.

Sabe aquela cena de Amélie Poulain em que ela, ainda criança, acredita que pode provocar acidentes com sua câmera fotográfica? (O que? Nunca viu Amélie? Cruzes, que tipo de pessoa insensível é você?!) Bom, mas estou me sentindo meio Amélie, achando que eu posso ser o ponto de encontro entre as cirurgias. (Sim, o mundo gira em torno do meu umbigo).

Portanto, este é um aviso sério: se você me conhece, tome um banho de sal grosso e procure uma benzedeira. Já!

Tuesday, December 7, 2010

Xixi amigo

Eu tenho um amigo legal que tem um blog com uma idéia muito legal. É um blog de fotos de portas de banheiros. Sempre que vai a um bar ou restaurante novo, ele fotografa as plaquinhas das portas, e é curioso ver a criatividade dos lugares. Recentemente, eu fiz minha primeira contribuição - internacional, porque eu sou muito chique.

Pra ver minhas fotos no Semiótica Sanitária, clica aqui, ó.

Friday, December 3, 2010

Piscina

Professor - Leticiaaaa! Leticiaaaaaa! Bate mais o péeeee!

Leticia - Professooôoor! Professooôor! Vai %$#@!

(resposta imaginária, é claro, porque Leticia é uma menina educada e sabe que o professor está apenas fazendo o seu trabalho)

Tuesday, November 30, 2010

Consultório

Eu - Então, doutora, acho que meu cabelo tá caindo muito.
Doutora - Você teve filho, passou por alguma cirurgia, teve alguma doença, bla bla bla?
Eu - Não, não, não, bla bla...
Doutora - Vamos examinar.

Doutora (examinando) - É, você está com esta bla bla bla aqui, que dá um tipo de caspa. Há quanto tempo você tem esta caspinha?
Eu - Oi? Caspinha? Não, não, não tenho caspa, tenho que-da de ca-be-lo.
Doutora - Mas tem a caspinha também. E, aproveitando, vou pedir um exame de tireóide.
Eu - Tireóide???
Doutora - Sim, acho que senti alguma coisa na sua garganta. Ah, vamos pedir um exame completo, né? Melhor.
Eu - Completo???
Doutora - E urina e fezes também. Às vezes pode ter algum parasita...
Eu - Parasita????

É sempre assim: você chega no médico com um problema e sai de lá com cinco.

Monday, November 22, 2010

Yesterday

Aproveitando o clima McCartniano em Sampa, aqui vai um registro da minha "Paul Experience", na Philadelphia, em agosto.


Let it be, let it beeee...

Monday, November 8, 2010

Suprema infelicidade

Já viram o filme do Jabor? A gente viu meio que sem querer. Íamos ver outro filme, aí o cinema era pequeno, só tinha uma bilheteria, as pessoas demoravam séculos para escolher seus lugares (não me conformo com essa moda de cinema com lugar marcado), e vimos que não ia dar tempo. Acabamos no cinema do outro lado da rua, e o próximo filme disponível era o do Jabor.

Eu tenho que dizer que meio que queria ver o filme. Pra começar, gostei do nome. A Suprema Felicidade. Bonito, não? E parou por aí. Sabe quando você tem a sensação de que tudo dá errado? Pois é, o filme é assim. Os diálogos são estranhos, as atuações são estranhas, a história é mais estranha ainda.

Na saída do cinema, uma senhora atrás da gente comentava com o marido:

- Acho que ele errou a mão, né?

- É - respondeu o marido - Errou a mão, o pé, errou tudo quanto é membro.

Achei um bom resumo do resultado do filme.

E tem uma boa crítica aqui.

Wednesday, November 3, 2010

Cheganças

Se soubesse como gosto das suas cheganças, você chegaria correndo todo dia.

(Chico Buarque, Leite Derramado, cap. 18)

Monday, November 1, 2010

Oi Marta, vote no Serra!

Hoje é o dia seguinte. Ontem Dilma Rousseff foi eleita. E eu recebo a seguinte mensagem no meu celular:

"Oi Marta, pro Brasil e Mauá seguir mudando, escolha um presidente honesto e experiente. Vote 45 no domingo!"

Olha, nada contra spam de campanha de gente que eu não conheço no meu celular. Mas vamos aos problemas da mensagem:

1. Eu não me chamo Marta

2. Eu não moro em Mauá, então não me importo se Mauá vai mudar ou não

3. A eleição já passou!

Friday, October 15, 2010

Hava Nagila

Adoro casamento judaico. Primeiro, gosto da ideia de quebrar um copo com o pé. Só fiquei triste quando descobri que só o homem quebra o copo. Mas imaginei que seria lindo um casamento de um homem judeu com uma mulher grega. Ela poderia tacar um prato no chão pra acompanhar o copo quebrado dele.

Segundo, gosto das danças logo depois da cerimônia. A dança em grupo eleva a animação - dos que estão dançando, é claro - a um ponto em que, em um casamento não judaico, só se chegaria no fim da festa, com muito álcool na veia.

Já a parte em que os noivos são levantados em cadeiras me deixa um pouco tensa. Sempre acho que algum padrinho mais atolado vai deixar alguém cair e, como diria Capitão Nascimento diante da operação do Papa, "isso vai dar merda". Esta arriscada prática da cadeira no ar, pelo visto, está se expandindo para os casamentos não-judaicos. Outro dia vi num casamento católico, o que era ainda mais perigoso, já que aconteceu naquele ponto da festa em que os convidados já estão tinindo de felicidade alcoolica. Pensando bem, acho que a queda dos noivos seria amortecida pelos corpos dos convidados que se aglomeram embaixo deles, não?

Nota para o próximo casamento: ficar longe das cadeiras voadoras.

E parabéns aos noivos do casamento desta semana, que - ufa - não caíram de suas cadeiras.

Sunday, October 3, 2010

Piada

Tiririca com mais de um milhão de votos = vontade de pegar o primeiro avião pra Nova York

Wednesday, September 29, 2010

Procura-se

Escrevo de uma tarde cinzenta ao som de buzinas passageiras na minha janela.

Há duas semanas, deixamos a cidade grande rumo a uma cidade maior ainda. A partida foi bagunçada, e os últimos detalhes não deixaram tempo para as últimas despedidas. Melhor assim. Agora recomeçamos a vida mais ou menos de onde paramos.

O blog, que por falta de tempo e concentração ficou de lado no último mês, também ganhará vida nova. Pelo menos é esse o plano para os próximos dias - junto com encontrar uma casinha e comprar um celular.

Wednesday, August 11, 2010

Torcida errada

Ontem fomos prestigiar a estreia da nova seleção brasileira. Porque somos brasileiros com muito orgulho com muito amoo-ooor. Nossas opções de lugar eram torcida mista ou torcida brasileira. Uhm, dúvida cruel... E lá fomos nós para a torcida mista.

Tudo estava indo bem - quer dizer, eu estava triste porque meu pequenino e inofensivo guarda-chuva de bolinhas havia sido injustamente confiscado na entrada - até que, aos poucos, começou a chegar um estranho grupo de pessoas. Eram uns seis ou sete amigos, americanos, brancos demais, e suados demais, e vermelhos até dizer chega por causa do suor, e todos esquisitos. Todos os exemplares de personagens esquisitos de filmes americanos estavam ali. Tinha do gordinho com camiseta justa ao careca ruivo de cabelo comprido. E eles não paravam de falar, e pela conversa via-se que eram muito bobos e muito confiantes de que eram o grupo mais legal do mundo.

O gordinho de camisa justa começou, em certo momento, a berrar que ali era os Es-ta-dos U-ni-dos da A-mé-ri-ca e ali se fala soccer e não football. Eu não entendi pra quem ele estava explicando isso, mas, ok, gordinho, como você quiser. O gordinho em seguida começou a berrar como o lugar em que estava sentado era bom, como a vista era fantástica. Uhm, gordinho, olha só: estamos no setor mais barato do estádio. É, tipo assim, o pior lugar... Mas tudo bem, achei bonito o gordinho dando uma de Poliana. Depois disso gordinho começou a ficar tenso porque faltava chegar um amigo. Ele tentava ligar para o amigo, reclamava que o amigo não tinha chegado, perguntava para si mesmo onde estaria o amigo. Finalmente o amigo chegou: era um negão, calça jeans, camiseta branca e boné do Yankees, super cool, super na dele. E todos - eu juro, todos os membros do grupo - claramente puxavam o saco do negão. Vieram cumprimentá-lo, davam tapinhas nas costas, e negão ali, na boa, só vendo o jogo, sem dar muita atenção pra eles.

Na volta do intervalo, o exemplar ruivo-careca-cabelo comprido-muito suor-cara vermelha aparece todo sorridente e começa a contar uma história. Enquanto conta a história, olha para negão para ver o que ele está achando. Eis a história: ele estava na fila para comprar cerveja e um "filho da puta com a camisa do Brasil" perguntou se eram duas filas ou uma só, ao que ele respondeu "você acha que eu falo português, BITCH?". Fim da história. Todos riram muito. Negão não deu muita bola. Ah, e o Brasil ganhou, BITCH.

Friday, July 30, 2010

Vovô viu... Picasso


Exposição do Picasso no Metropolitan. Cheia demais. Decidi que já vi Picasso demais. E aí resolvi tirar fotos das pessoas que estavam vendo a exposição. Foi divertido.

Para ver algumas das fotos, clique aqui.

Wednesday, July 28, 2010

(Super) Mercado

Oi, sabem onde eu estou neste momento? Trabalhando no supermercado. Não, não estou sentada no chão entre os pacotes de macarrão e os potes de molho de tomate. O nosso super-supermercado tem, além de bufê com saladas e pizza a quilo, um refeitório envidraçado e bem agradável no segundo andar com wi-fi digrátis e cheio de tomadas nas paredes. Muito primeiro mundo, tenho que dizer. Você não precisa de senha, não precisa comprar nada. As pessoas vêm pra cá com seus laptops e passam a tarde trabalhando. Outras vêm para ler. Pais trazem bebês nos carrinhos. Babás juntam a criançada para o lanche da tarde.

Acho que este post inicia uma série pré-nostálgica de lugares de que vou sentir falta em Nova York: a Whole Foods de Tribeca é com certeza um deles. Snif.


Tuesday, July 20, 2010

Loucuras

Nova York só tem louco. É difícil andar pela cidade e não esbarrar com alguém sujo e maltrapilho andando sem rumo e conversando animadamente consigo mesmo. Muitas dessas pessoas dormem nas ruas, nas escadas de igrejas e, no inverno, nas estações de metrô. Já me disseram que tem tanto louco pelas ruas porque não existe um sistema manicomial (isso é uma palavra?) que os dê abrigo. Não sei se é verdade.

Outro dia estávamos na rua, fim da noite de um sábado, e um homem maltrapilho - que falava sozinho - veio em nossa direção. Vai pedir dinheiro, pensei. Em vez disso, ele nos olhou e perguntou se estávamos tendo uma boa noite. Respondemos que sim e ele, parecendo feliz com a resposta, seguiu seu caminho.

Wednesday, June 30, 2010

Mundo animal

Só queria contar que os mini-patos aqui do meu laguinho já estão enormes. Ainda não são patos em tamanho normal, mas já viraram adolescentes, eu diria. Cresceram muito rápido. De repente o crescimento acelerado tem relação com a quantidade de biscoitos que as criancinhas do bairro jogam pra eles. Muita gordura trans na veia.

E esta é minha análise - com muito embasamento - da vida dos patos.

Wednesday, June 23, 2010

Copa e cozinha

Você é brasileiro e tem um restaurante de comida brasileira em plena rua 46 - conhecida como Little Brazil. É dia de jogo do Brasil na Copa do Mundo. Nova York tem brasileiro pra cacete. Brasileiro adora futebol. O que você faz? Pela nossa experiência nas duas primeiras partidas da seleção, absolutamente nada. Não bota a equipe pra funcionar a pleno vapor, não aumenta o estoque de comida e bebida. Em resumo assim bem resumido: nada mesmo.

No restaurante onde vimos o primeiro jogo a coisa funcionava da seguinte forma: todas as mesas ocupadas, o bar inteiro ocupado, gente se espremendo nas paredes e apenas um garçom. Unzinho. Aí este garçom-gênio te entregava o cardápio e, quando você fazia o pedido, ele falava assim: "olha, hoje só tamo servindo picanha". Uai, garçom, então pra que entregar o cardápio cheio de estrogonofe e salmão? A cerveja acabou pelo meio do caminho. Chegou mais - mas estava meio quente, of course. Conseguir uma caipirinha, nem pensar. O único barman, com toda a razão, não dava conta dos 520 mil pedidos. No banheiro, faltava luz. Nada da máquina de cartão de crédito funcionar. E, para completar, o garçom-gênio esqueceu de fazer o nosso pedido para a cozinha. Havíamos chegado uma hora e meia antes do jogo para comer com calma, e, no fim do primeiro tempo, já estávamos roendo as unhas de fome. Questionando o querido garçom, recebemos a seguinte resposta: "ó, vou ser sincero com vocês. acabou a comida. agora só depois do jogo". Fui reclamar com a dona do restaurante, que só deu as caras no meio da partida, quando o caos já havia se formado. "chegou uma picanha novinha agora, vai sair já já". então tá. Almoçamos no meio do segundo tempo. A picanha estava boa, pelo menos. Ou vai ver a fome era grande demais.

No segundo jogo, fomos a um restaurante do outro lado da rua. Como era domingo, chegamos mais cedo ainda, pouco depois de meio dia, e já encontramos uma fila. Debaixo de um sol escaldante, torcedores guerreiros vestidos de pintinhos amarelinhos derretiam pacientemente em frente à porta - fechada. Dali a pouco, aparece uma mulher lá de dentro: "só vamos abrir 13h30", anunciou, completando que haveria "consumação mínima de 50 dólares por pessoa". Agora, explica a lógica de abrir o restaurante só uma hora antes do jogo, quando obviamente a fila já estaria enorme, e ter que servir todo mundo ao mesmo tempo? Desta vez não ficamos para ver o caos se formar. Estava calor demais. Caminhamos alguns metros e, em plena Little Brazil, paramos num pub irlandês, que nos recebeu de portas abertas e cerveja gelada, sem consumação mínima ou espera sob o sol.

E depois brasileiro gosta de contar piada de português.

Friday, June 18, 2010

Senhoura

Depois de um ano morando em Nova York, finalmente fui visitar a Estátua da Liberdade. Agora posso concluir que:


A Estátua da Liberdade é uma estátua cercada por turistas de todos os lados.


Monday, June 7, 2010

Do Brasil

De onde vocês são? - pergunta o senhorzinho que veio oferecer para tirar uma foto nossa em frente ao museu de arte da Philadelphia enquanto eu esticava o braço ao máximo para conseguir enquadrar eu, o Tiago e o prédio.

Do Brasil - responde o Tiago.

Oh, que legal - diz ele, pensativo. Já imagino que vai citar o Pelé. Ledo engano.

É lá que tem aquela praia, Apaiabiacana...

Enquanto eu mergulho nos meus arquivos cerebrais para tentar descobrir que diabo de praia é essa, o Tiago responde, animado:

É! Cobacapana.

Isso! - diz o senhorzinho.

Ahhh... penso eu.

Lá nesta praia tem muuuita mulher bonita - complementa ele.

Eu interpreto a afirmação como uma referência à prostituição de nossas praias e abro um sorriso amarelo. O Tiago interpreta como um elogio e, mais uma vez animado, completa:

É, que nem essa aqui - e aponta para mim.

Meu sorriso amarelo vira uma gargalhada amarela. E o senhorzinho, depois de concordar, sai, com um risinho maroto no rosto.

***

Oi, você pode me dar um espacinho pra eu conseguir falar com o barman? - digo pra um careca depois de rodar de um lado para o outro e não conseguir chegar nem perto do balcão. Ele se afasta, com uma cara meio antipática, e eu faço meu pedido. Ele me olha, eu percebo e continuo olhando pra frente. Tenho certeza que, se eu olhar pra ele, vou ouvir algo antipático. Decido ceder o lugar de volta, digo que já fiz o pedido, posso esperar atrás.

Você está de férias? - é a resposta dele. Oi?

Não. Moro aqui. E mais não digo. Sotaque dos infernos... Volto a olhar para frente.

Mas você é de onde?

Do Brasil.

Aaaaah - ele abre um sorriso, e fala em português, também com um sotaque dos infernos: "Oi, como vai você?"

Ah, você fala português? - pergunto eu, em português.

Um pouquinho. (E volta para o inglês. Acho que esse foi todo o pouquinho) Tive uma namorada brasileira, que morava em Ipanema. Fui algumas vezes pra lá.

Legal. Ipanema é bem legal.

Sim. Mas sabe o que é mais legal? Ela me levou a um lugar que ninguém conhece! Impressionante... Ninguém conhece!

Gente! Que lugar é esse? - penso eu, esperando uma grande revelação do careca.

Saquarema!

Monday, May 24, 2010

Sons da natureza

Dos problemas que a gente não acha que vai ter em Nova York: há três noites um pássaro animado atrapalha meu sono. Ele começa a cantar pelas 2hs da madrugada e tem um canto ritmado, daqueles que entram na sua cabeça. Na primeira noite, acordei com o barulho e não conseguia ententer o que era - a minha janela é anti-ruído, o apartamento é super silencioso. Quando abri a janela levei um susto: é muito alto o diabo do canto do pássaro. Espero que a festa dele não dure por toda a primavera...

Thursday, May 20, 2010

Qua!

Oi. Passei aqui pra contar que nasceram patinhos no laguinho aqui perto de casa. São as coisas mais fofas do mundo, os patos-bebês. Aí eu pensei que, desde que mudamos pra cá, há um ano, eu sempre visito os patos. Desde que eles sumiram, no inverno, nunca voltaram todos. Foi bem triste ver o lago congelado por meses. Recentemente, dois patos apareceram. Depois, mais dois. E, hoje, a surpresa dos bebês. Não sei quem deu pra quem. Contei oito mini-patos, mas acho que havia outros escondidos dentro de uma planta - que é onde eles dormem, I guess. Agora vou ter que voltar lá todo dia pra acompanhar o crescimento.

Wednesday, May 19, 2010

HipsterWorld


Há algum tempo eu queria conhecer Williamsburg. Minha amiga Elza, quando tomou posse do meu sofá-cama no início de abril, falou que tinham falado pra ela que tínhamos que conhecer Williamsburg. Acabou que, coisa demais pra conhecer em Nova York, não deu tempo, para a tristeza de Elza. Aí outro dia um moço que eu entrevistei pra uma pauta sobre a cidade citou Williamsburg como um lugar muito legal, com bares, artistas e, ele ressaltou, hipsters. Hip-o-que?, pensei - mas não perguntei, pra não perder a pose.
No último fim de semana, decidi que íamos conhecer o bairro - que, ainda não contei, fica no Brooklyn. Abri nosso querido Lonely Planet e lá estava Williamsburg (que para os íntimos é conhecido como Billyburg) e seus bares. Novamente, os hipsters eram citados. Eu, como não sou muderna, não sabia, como vocês já devem ter notado, o que eram hipsters. "Diz que tem muito hipster lá em Williamsburg", falei pro Tiago, que é menos muderno ainda. "Que isso?", foi a resposta. E passamos nossa tarde em Williamsburg decifrando os hipsters - quase assim um passeio antropológico.

Pra princípio de conversa, os hipsters, ao contrário de mim e do Tiago, são obviamente mudernos. Eles usam óculos Ray-Ban - muitas vezes com aro colorido -, calça beeem justa, cabelo com cara de que não é lavado há uma semana, às vezes chapéu. Até que eu gostei dos hipsters. No fim da tarde, achamos uma mini praça onde o povo vai ver o por do sol, e lá estava uma banda hipster gravando um clipe hipster. Alguns hipsters apareceram com suas bicicletas vintage, outros com seus vinis na mão - eles gostam de comprar vinis, notamos isso.

E o bairro tem realmente um clima legal. Era sábado, estava um dia bonito de sol e as ruas estavam cheias - de hipsters e, em menor número, de não-hipsters. Fomos na maior praça da região, a McCarren, onde vimos hipsters jogando bocha - não sei se é um esporte popular entre o grupo, mas acho que foi a primeira vez que vi pessoas da minha idade jogando bocha. Aliás, acho que nunca, na minha vida, escrevi a palavra bocha. Espero ter escrito certo.
Aí, só pra não deixar este post sem uma base, digamos assim, mais sólida, fui ao Santo Google ver o que significava hipster, e achei que é um povo que valoriza o pensamento independente, a contracultura, o progressismo político, a arte, a criatividade e a música indie. E, no quesito moda, gosta de tudo isso que eu botei aí em cima. E se você quiser achar um hipster, basta ir a Williamsburg. Ah, e na minha pesquisa internética achei esse site (clique aqui) com fotos de cães hipsters fofos.

A fotinha é de uma camiseta hipster que o Tiago achou num brechó em Billyburg - não, ele não estava no brechó por livre e espontânea vontade...

Monday, May 17, 2010

Gramercy, o não-parque

Adoro parques, praças e gramados em geral. E Nova York é cheia de gramados acolhedores. Gosto quando, num domingo de sol, os gramados ficam alegres, cheios de gente com -pouca - roupa colorida, gente com seus cãezinhos de estimação, gente lendo, fazendo piquenique, batendo papo, jogando frisbee... tem um povo que se anima de jogar futebol americano, mas isso eu já não gosto não, porque sempre fico com a impressão de que a bola vai, a qualquer momento, voar na minha cabeça. Nunca voou, mas eu ainda acredito que um dia ela chega.

Eis que hoje leio no jornal que existe um parque em Manhattan, chamado Gramercy Park, que é fechado. Dizem que é um parque lindo, mas só pode saber quem mora em torno dele, ou tem algum amigo que mora e é convidado. Ainda assim, cada morador só pode levar no máximo 6 convidados. A matéria do jornal dizia que um frequentador do parque está em pé de guerra com o pessoal responsável pela administração - ele não reivindica que o Gramercy seja aberto ao público; ele quer simplesmente que as regras de uso sejam menos rígidas. O último problema dele com o "conselho" - sim, já houve vários - foi a ideia de levar um grupo de 20 alunos de arquitetura e história da arte da Universidade de Columbia para conhecer o parque. No dia seguinte, ele recebeu uma mensagem repreendendo sua atitude, com direito a foto do "flagrante".

Quando comecei a ler a matéria, estava achando um absurdo o parque ser fechado. Ele funciona basicamente como um clube. Cada morador - ou melhor, cada família - do entorno tem direito a uma chave - desde que pague 350 dólares anuais por ela. Os proprietários dos terrenos em volta do parque pagam uma taxa de 3 mil dólares por ano para manutenção. Depois de tudo isso, vamos às regras: nada de animais de estimação, nada de frisbees ou bolas, nada de álcool, nenhum tipo de evento musical ou teatral que não seja organizado pelo "conselho". Noivos podem tirar fotos para o álbum de casamento, mas nada de convidados. E, na minha opinião, a pior regra de todas: nada de pisar ou sentar nos gramados. Ó que triste. Perdi completamente a vontade de conhecer o Gramercy e sua grama intocável.

(Na foto, o gramado na frente da nossa casa, onde pode pisar na grama - e jogar frisbee!)

Monday, May 10, 2010

Miroslav Tichý


Miroslav Tichý é louco. Ele é checo, tem 83 anos e vive sozinho em uma casa caindo aos pedaços em uma cidadezinha chamada Kyjov, de onde não sai por nada. Não sei quando ele ficou louco. Antes de começar a se comportar de maneira esquisita, digamos assim, Tichý estudou na Academia de Belas Artes de Praga, mas largou os estudos pela metade, abandonou a pintura e passou a andar pela cidade observando seu cotidiano e tirando fotos (muitas fotos) de seus habitantes. Ele andava com um casaco todo rasgado e remendado, barba comprida e tinha sempre nas mãos câmeras que fazia sozinho. Tichý fazia suas câmeras com sucata e polia as lentes com pasta de dentes e cinza de cigarro. Algumas pessoas da cidade tinham medo dele, outras achavam que ele apenas fingia que tirava fotos. Algumas vezes Tichý foi preso e passou períodos em um hospital psiquiátrico.

Reza a lenda que, alguns anos atrás, um psiquiatra cuja avó morava em Kyjov voltou à cidade e visitou o velho. Ao entrar em sua casa, levou um susto com a quantidade de fotografias sujas e manchadas espalhadas pelo chão, mas viu ali obras de arte. Este psiquiatra criou a fundação Tichý Oceàn, fez um documentário com o fotógrafo e tornou-o conhecido. Há, porém, uma outra versão, contada por uma mulher que passou a cuidar de Tichý depois que sua mãe morreu. Ela diz que o psiquiatra é um aproveitador e que o fotógrafo nunca teria lhe dado permissão para as exposições. Mas esta já é outra história...

Voltando às fotos, elas são, em sua grande maioria, de mulheres e meninas. São, muitas vezes, desfocadas e mal recortadas. Mas são fascinantes. Eu conheci Tichy - não ele, porque teria que viajar a Kyjov, mas seu trabalho - há poucos dias, em uma exposição no International Center of Photography aqui em Nova York. E fiquei intrigada com ele, com sua loucura e com sua genialidade. Suas fotografias foram expostas na Bienal de Artes de Sevilla, em 2004, e no Centre Georges Pompidou, em Paris, em 2008, e esta foi sua primeira mostra em um museu americano. No documentário que acompanhava a exposição - que acabou no domingo, sinto dizer - Tichý diz que fotografar nada mais é que pintar com luz.

Tuesday, May 4, 2010

El secreto de Mis ojos

Fomos ver El Secreto de tus Ojos (ou The Secret of their Eyes, já que estamos em NY), o filme argentino que ganhou o Oscar de melhor filme estrangeiro. Fomos no Angelika, um cinema que fica no subsolo e, quando passa o metrô, ele treme. Na primeira vez que fui lá levei um susto; hoje em dia acho engraçado ouvir aquele barulhinho de metrô ao fundo.

Mas o que queria contar mesmo é que nunca tinha visto filme em espanhol com legenda em inglês. E sabe o que aconteceu? Deu um caimbra no meu cérebro. Passei uma meia hora sem saber se olhava para a legenda ou prestava atenção no que os atores falavam. Eu entendo um pouco de espanhol, mas não tudo. E por mais que fale inglês, não é a minha primeira língua, não é tão natural quanto português. Enquanto tentava ler as legendas, acabava ouvindo também as falas. E a estrutura das frases é ao contrário! E junte-se a isso a sala tremendo com o metrô. Confuso, muito confuso...

Sunday, May 2, 2010

(Quase) Cabum

Vocês viram o carro bomba ontem na Times Square? Eu não. Estava pertinho, e não vi nadica de nada. A gente foi ao teatro, nove ruas acima de onde estava o carro. Estávamos atrasados, saímos do metrô correndo e não notamos nada estranho - as sirenes irritantes e intermináveis são algo normalíssimo. Depois do teatro, fomos comer ali pela região, e reparamos pessoas andando no meio de uma rua.

"Olha, Ti, pessoas andando no meio da rua", disse eu.
"É, ta fechada a rua, ta vendo? Não ta passando carro", respondeu ele.
"Ah, é", encerrei o assunto.

E foi isso. Atravessamos a rua fechada e fomos comer um belo hamburguer na esquina seguinte. Só quando chegamos em casa é que vimos as notícias.

Hoje fiquei desapontada que ninguém ligou pra saber se estamos bem.

"Nem nossos pais...", comentei com o Tiago.
"Mas a bomba não explodiu! Se tivesse explodido, aposto que eles ligavam", respondeu ele, me consolando.

Thursday, April 29, 2010

Eu to voltando pra casa

Depois de um longo e tenebroso inverno, estamos de volta a nossa casinha. Tenho que admitir que o longo e tenebroso inverno teve direito a viagem a Búzios, mate com biscoito Globo em Ipanema e jantarzinhos com amigas queridas. Sofri muito, como podem ver.

Eis que chegamos hoje, depois de muitas horas de viagem com direito a pit stop em Charlotte (que fica na Carolina do Norte, sabiam?), e rolou uma certa frustração. Nestas semanas fora, perdemos o processo de verderização (oi?) da cidade. Saímos com a maioria das árvores peladinhas, e voltamos com elas já verdinhas. Agora nunca saberemos como isso ocorre. Pra descobrirmos, só ficando até a próxima primavera, né, amor?

Mas o bom é que agora começa a melhor parte do ano, com piqueniques no gramado e sol até tarde. Minha resolução de ano novo do momento (imaginem que o ano começa em maio) é voltar a tentar andar de patins. Será que agora consigo?

E, só pra terminar este post de boas vindas, tenho que contar que me senti verdadeiramente em Nova York agora há pouco, quando vi um ilustre habitante nova-iorquino na minha rua: um ratinho, bem à vontade, sem medo de ser feliz.

Tuesday, April 6, 2010

Sumiço, parte 2 - A Missão

Sim, andei sumida. De novo. Eu sei, eu sei. Ainda tomo jeito. Tenho algumas historinhas pra contar, e prometo contar em breve. Mas agora tenho que arrumar malas, limpar a casa, trabalhar um pouquinho e organizar a cabeça antes de pegar um avião amanhã pra tomar um pouquinho de chuva na terrinha.

Só resolvi passar aqui e dar um "oi" porque uma pessoinha querida acaba de me mandar o seguinte recado:

Era uma vez uma amiga que tinha um blog. E depois esqueceu. Fim.


Então... oi! E tchau! Volto logo, tá?

Wednesday, March 17, 2010

Lâmpada mágica

Tudo aconteceu muito rápido. Precisávamos de uma luminária para o nosso escritório. A luz pifou e eu decidi não substituí-la. Era uma luz daquelas de cozinha, brancas, que eu detesto. Resolvi que seria melhor botar uma luminária com luz amarela indireta. As lojas moderninhas de Manhattan só têm luminárias caras. As mais tradicionais só têm luminárias horrorosas - e caras. Sobrou a Ikea, uma rede sueca com loja no Brooklyn onde compramos praticamente a casa inteira. Mas e a preguiça de ir até a Ikea comprar uma coisa só? É longe, demora pra chegar, eu vou acabar inventando de comprar mais do que devia e vou voltar, cheia de tralha, me xingando no metrô.

Diante deste grave problema, eis que vou jogar o lixo fora tarde da noite e, assim que adentro a salinha do lixo (tem uma salinha onde jogamos o lixo), dou de cara com uma luminária. Oi? Eu olhei para ela, ela olhou para mim, fiz uma análise rápida para ver se não havia algum fio solto ou aparência de que algo estava quebrado. Nada. Agarrei a pobre coitada e saí correndo com ela pelo corredor. Eu sei que não estava roubando nada. Mas vai que dou de cara com o ex-dono da luminária? Caio dura de vergonha na hora.

Chego na frente do apartamento e a porta tinha batido. Começo a tocar a campainha - com cuidado para não fazer muito barulho e chamar a atenção dos vizinhos - e o Tiago vem lentamente atender. Assim que ele abre, eu e a luminária pulamos para dentro. E ela funciona, direitinho.

Desde então, toda vez que vou jogar o lixo fora mentalizo alguma coisa para ver se a encontro lá na salinha. Até agora, nada. Voltou a ser uma salinha sem graça. E sem poderes mágicos. Triste, triste.

Wednesday, March 10, 2010

O fim


O inverno começa a dar sinais de despedida, e já é possível ver o pôr do sol assim, ao ar livre, sem o vento congelante que machuca o rosto. E eu só tenho uma coisa a dizer: ieeeei!

Monday, March 8, 2010

Rock on!

Qualquer experiência de musical na Broadway vem acompanhada de um quê de cafonice. Falo isso sem um pingo de preconceito com musicais, que fique claro. Eu gosto deles, na maior parte das vezes. E acho que a elaboração de um bom musical é trabalho de gênio, pois pense como deve ser difícil escrever uma peça ou um filme partindo da premissa de que as pessoas devem se comunicar cantando sem que isso pareça esquisito. Imagine um amigo que, em vez de simplesmente dizer como se sente diante de um problema, demora uma canção inteira, com direito a passinhos ensaiados e piruetas, para expressar seus sentimentos. Haja paciência.

Mas eis que tivemos uma ótima experiência no fim de semana: Rock of Ages. Estão lá todos os elementos básicos do musical, como uma história de amor mal resolvida entre o mocinho e a mocinha e o conflito entre o bem e o mal, além de atores com vozeirão e muitas piruetas. A diferença? Há várias: uma banda de rock no palco, uma trilha sonora formada por sucessos do rock farofa dos anos 80 e garçonetes que circulam pela platéia pegando pedidos ("we have basically a full bar, sir", ouvi uma delas dizer para um empolgado espectador atrás de mim).

A peça se passa num bar de roqueiros em Los Angeles no fim dos anos 80. Está lá toda a aura exagerada daquela época: cabelões, mullets, jaquetas com tachinhas, cores berrantes. Parte da platéia, já animada por poder beber na poltrona do teatro, se empolga cantando as músicas. E olhando as pessoas em pé batendo papo durante o intervalo - olhando também o tamanho da fila do banheiro - a impressão que se tem é que se está numa festa, e não numa peça. Toda a cafonice proposital de Rock of Ages o torna nada cafona.

Wednesday, March 3, 2010

O resultado

Sim, andei sumida do blog, eu sei. Mas acredito que todos - ou quase todos - os queridos leitores tenham me encontrado nas duas últimas semanas, certo? Se houver algum desconhecido desavisado a passar por aqui, informo: estivemos no Brasil, com a desculpa oficial de renovar o visto americano, a vontade imensa de pular carnaval e a deliciosa obrigação de visitar parentes e amigos. Não deu pra ver todo mundo, pois o tempo era curto, mas foi o suficiente para me sentir novamente carioca e lembrar por que eu amo São Paulo (não é pelo trânsito, posso garantir).

O resultado do carnaval foi uma inflamação no pé que me deixou de molho por dois dias; o resultado dos encontros com os amigos em almoços e jantares quase diários foi um piriri. O Tiago vai brigar comigo por eu falar do piriri na internet, já sei, mas eu precisava contar como meu organismo teve um surto pelo excesso de estrogonofe do Lamas (quatro vezes, pelas minhas contas), misturado com quibe cru do Saj, feijoada da minha sogra, cachorro quente do A Chapa, coxinha do Genial, lasanha da Pati, caipiroscas (em Sampa), caipivodcas (no Rio), frutos do mar do Don Curro e, nesta mesma linha, caldeirada made in casa de papai. Ah, e sem esquecer o meu doce preferido, de cholocate e merengue, feito pela minha Dinda. Sem esquecer também das latinhas de Antarctica entre um bloco e outro, e outro, e outro. Pensando assim, até que o piriri foi bem leve.

Friday, January 29, 2010

Das pequenas coisas

Meus vizinhos não falam muito. "Bom dia" no elevador é algo raro. Normalmente você cruza com eles na portaria, na salinha das caixas de correio, no corredor, na academia, e eles evitam ao máximo o contato visual. Se você força, eles acabam dando um aceno de cabeça meio tímido. No começo eu ficava meio irritada. Tudo bem, nunca fui de ter "amigos do prédio", mas sou a favor das relações educadas com direito a segurar a porta do elevador e falar "oi" e "obrigado".

Por isso me espantei hoje quando chegava em casa. O vizinho que estava mais perto da porta do elevador, em vez de entrar, ficou do lado de fora e segurou a porta para que eu e outra vizinha entrássemos. Nós agradecemos e eu já estava achando aquilo o máximo da educação. Mas aí chegou no andar dele e ele não só se virou para nós como sorriu e nos desejou um bom fim de semana.

Vou falar que fiquei quase emocionada.

Thursday, January 28, 2010

Evolução (ou: Descobrindo a TV digital)

Nós temos DirecTV. E eu passei os últimos seis meses reclamando da DirecTV. Não acho que as outras operadoras de TV fechada sejam menos piores. Mas escolhemos esta, então eu só posso reclamar dela. O primeiro problema foi o preço. A propaganda te diz uma coisa, e quando você vai ver tem que pagar um bolo de taxa extra. Ou seja, sai caro. O segundo problema foi a infinidade de canais. Pra que tanto canal, meu Deus? Nem sendo o maior desocupado do mundo é possível assistir a todos os canais. E decorar os números? Sei que a CBS é 2 e que a CNN é 202 e que a Fox News fica perto do 350 e alguma coisa... e por aí vai. Não sei nem o meu celular de cor, quanto mais os canais da DirecTV - o que me fez passar a ver menos TV, porque não tenho lá muita paciência de ficar descobrindo os canais.

E comecei a me irritar mais ainda quando, depois de três meses em que tínhamos direito a um pacote "extra" com um monte de HBO e outras cositas más, passaram a cobrar instantaneamente pelo pacote. Nunca nem tínhamos olhado estes canais extras, que ficavam depois do número 500 do controle remoto. Peguei a conta e mostrei para o Tiago, ressaltando o absuuurdo daquilo. Ele concordou e prometeu ligar para cancelar o pacote mas, curioso, foi espiar os canais. "Mas a HBO é tãaaao legal", comentou dias mais tarde, deixando claro que não mais ligaria para cancelar.

Mas eis que o tempo passou e meu coração foi amolecendo. Descobri, meio sem querer, que se estou vendo um filme e preciso atender o telefone, posso simplesmente pausar o programa. Sim, pausar! Se não entendi uma fala em algum seriado, posso voltar aquele pedaço.

Na semana passada, comprei ingressos para ir ao basquete. O Tiago logo reclamou: "Mas terça-feira é dia de American Idol...". E eis que resolvemos testar se era possível gravar o programa - já que podemos pausá-lo, tudo era possível. Sentei na frente da TV, respirei fundo e me preparei para entrar em um complexo processo de aperto de botões do controle remoto. Lembro até hoje do inferno que era gravar um programa no vídeo cassete: bota a fita, escolhe SP, EP ou sei lá mais o Q, vai apertando até aparecer a hora de começar, depois clica na setinha pra ir pra hora de terminar, depois dá uma rodadinha e joga as mão pro alto, reza três Ave Marias e pronto... você chega em casa e descobre que esqueceu de fazer uma coisinha besta e o programa não gravou. Então qual não foi a minha surpresa quando simplesmente selecionei o programa e cliquei no botão R (de Rec) e voilá. Funciona assim: apertando um botão. Unzinho só.

Enfim, tudo isso pra dizer que estou começando a amar a minha TV.

Thursday, January 21, 2010

Diálogo Hein

Vou entrar em um restaurante e quase tropeço em um pequenino cão na porta. Amarrado pela coleira, o simpático pug, sem notar que por pouco não foi atropelado, olha para mim com cara de - desculpem a falta de originalidade - cachorro abandonado. Meu coração derrete. Abaixo para fazer carinho nele, e ele pula em mim, nervoso em busca de atenção; consigo ouvir até aquele chorinho canino fino. O Tiago (que não liga para cães) apenas observa a cena. E uma mulher que passava pela calçada se posiciona ao lado dele e, sorrindo, começa a falar enroladamente sobre o meu momento com o pug.

Nós ignoramos a mulher, pelo simples motivo de que não entendemos nada do que ela fala. Até que finalmente compreendemos uma pergunta:

Mulher: é menino? (ela não usa o termo "male", mas "boy")

(eu continuo brincando com o cachorro. sei lá se é macho)

Mas o Tiago resolve responder, sério: Sim. (Hein?)

A mulher olha satisfeita para ele - conseguiu fazer contato! - e continua: É de vocês?

Tiago, curto e grosso: Não.

A mulher faz uma expressão de "hein?" e desiste de nós.

Monday, January 11, 2010

I see dead trees


Hoje vou tratar de um assunto muito sério: a matança das árvores de Natal. Confesso que achei bonito quando, em dezembro, vi o comércio de pinheiros. "Ó o espírito de Natal", pensei, ao passar pela calçada com cheirinho de floresta por conta das árvores verdinhas que esperavam para ser adotadas - por uma módica quantia - para abrigar os presentes de uma feliz família americana. E lembrei com desdém das árvores de plástico que compramos nas Lojas Americanas e que duram anos e anos, sempre iguais, sem cheirinho de floresta.

Mas o Natal passou, companheiros, e com o Ano Novo chegou o Dia de Reis, conhecido também como dia-de-desmontar-a-árvore-de-Natal. Tirando um vizinho do prédio aqui da frente que resolveu transformar seu pinheiro em parte permanente da decoração da sala, não vejo mais luzinhas nas outras janelas. E eis que me deparo com este cenário desolador nas ruas: dezenas de árvores empilhadas nas esquinas à espera da coleta de lixo. Triste, muito triste. Os pinheiros, agora não tão verdinhos, usados e gastos, tiveram apenas algumas poucas semanas de atenção de suas famílias adotivas. Cumpriram sua missão na Terra e agora são jogados sem piedade no lixo. Ó, Deus, tenha piedade!

Ok, mas falando sério: passei a ter mais respeito pelas árvores de plástico das Lojas Americanas.

Saturday, January 9, 2010

O primeiro do ano

Alou, 2010! Andamos sumidos por conta de uma gripe que vem se revezando entre o casal. No reveillon foi a vez do Tiago, agora é a minha vez. Estranhamente, na vez do Tiago a gripe passa mais rápido. Vai entender essa implicância comigo...

Resumidamente, não temos feito quase nada neste começo de ano. Gripe + frio = casinha quente. Temos saído bem pouco - ir ao cinema no quarteirão aqui do lado não conta, né? Hoje, apesar dos apelos do Tiago para que eu fique de molho até que minha horrorosa tosse passe, fomos passear no MoMA. Pode deixar que tomei cuidado e só tossi com a mão cobrindo a boca, para não passar minha doença aos queridos turistas que lotam todos os museus da cidade. (Sim, já me sinto no direito de reclamar dos turistas)

Mas na verdade não entrei aqui pra contar da visita ao MoMA ou da minha gripe. É que lembrei que não contei nada sobre a noite de Ano Novo e achei que devia contar. Nós voltamos de viagem no dia 30 porque eu inventei que fazia questão de passar a virada olhando a bola caindo na Times Square. O meu marido ideal perguntou se eu não queria passar o Ano Novo em Paris, mas eu disse que "não, quero ver a bola". Se eu não conhecesse o Rio de Janeiro e fosse passar um Ano Novo lá, iria para Copacabana. Morando aqui, tinha que ir para a Times Square, certo?

Então lá fomos nós e nossos casacos impermeáveis. Um frio do cacete e uma chuvinha chata nos esperavam do lado de fora. Pegamos o metrô, conseguimos achar o caminho, passamos pelo complexo esquema de segurança e chegamos ao nosso destino. Quer dizer, mais ou menos chegamos ao nosso destino. O problema, curiosamente, não era a multidão; o problema era o excesso de organização. Os cuidados com a segurança são muitos, e a polícia fecha as ruas para controlar a entrada das pessoas e garantir que, em caso de alguma emergência, haja saídas livres. O que é bem correto, mas mata toda a espontaneidade e o calor humano do empurra-empurra em busca de um lugarzinho entre a multidão.

Além disso, não se pode entrar com álcool ou com mochila. Bem, depois de ter que abrir o casaco e enfrentar o detector de metais em duas barreiras policiais, um casal do meu lado bebia uma garrafa de champagne, enquanto umas três pessoas passavam felizes e contentes com suas mochilas. Ou seja, a segurança é falha e se alguém quiser fazer besteira, faz.

Depois das barreiras policiais, conseguimos entrar na altura do Central Park, na rua 59. A bola da Times Square, lá na rua 42, parecia uma bolinha de gude ao longe. E chovia. Alguns pingos de chuva viravam gelo. E não tínhamos álcool para nos esquentar e amenizar a sensação de programa de índio. Quando faltava uma hora para a meia noite, eu cansei. Olhei para o Tiago, que exemplarmente aguentava o mal-estar da gripe para que eu pudesse ver a bola de gude caíndo (o que diabos significa aquela bola caíndo?), e perguntei se ele queria ir para casa. "Sim!", respondeu ele, animado.

Demos meia volta e entramos no metrô mais próximo - uma estação pequenina, com apenas uma máquina de vender bilhetes e uma fila considerável para comprar os bilhetes. Como somos precavidos, tínhamos o equivalente a dois bilhetes no nosso cartão de metrô. O Tiago passou na catraca. Na minha vez, o cartão deu problema. O leitor eletrônico da catraca finalmente me deu a ótima notícia: o dinheiro no meu cartão havia sido engolido. Entro na fila para comprar um novo bilhete e vejo que a máquina não aceita notas, apenas moedas e cartões. Só tenho notas; não levei meus cartões para não correr o risco de perdê-los ou ser roubada - sim, continuo carioca. Enquanto eu e Tiago nos comunicamos aos berros separados pela grade da estação, tentando ter alguma idéia genial para não passarmos a meia noite separados, um casal enrolado tenta, sem sucesso, comprar seus bilhetes. E o resto da fila bufa de impaciência. Passaríamos todos o Ano Novo presos na estação? Nãaao. Quando menos esperávamos, apareceu um super policial que abriu o portão e deixou todo mundo entrar de graça! Olha que bonito. Todo mundo ficou feliz. E eu achei que pareceu cena de filme.

Finalmente chegamos em casa. O Tiago correu para a geladeira para pegar o champagne e eu corri para ligar a TV para vermos a bola de gude cair. E sabe o que aconteceu? A TV não funcionou. Juro que não funcionou. Tive que desligar tudo e "reconfigurar o modem", seja lá o que isso signifique. A TV voltou a funcionar 25 segundos antes de 2010, e vimos a bola cair com taça de champagne na mão e sem chuva na cabeça. Ficamos felizes. E, sim, pareceu cena de filme.