Wednesday, September 7, 2011

Ensinamentos

No site de um grande jornal brasileiro, ao lado de "Piloto Helio Castroneves está no júri do Miss Universo" e "Marido de Zsa Zsa Gabor é atropelado nos EUA":
*Aprenda a trocar seu chuveiro.
*Saiba onde comer brownies com caldas irresistíveis.
and...
*Saiba como convencer sua parceira a topar sexo a três.

Wednesday, July 20, 2011

Táxi

O táxi para no sinal. Vem o vendedor ambulante, mãos carregadas de carregadores de celular. Cumprimenta o taxista e segue em direção aos outros carros.

Sabe esse homem aí? É vendedor nesta mesma esquina há vinte anos. Eu não sei o nome dele, ele não sabe o meu, mas a gente se reconhece todo dia, diz o taxista.

O trânsito flui, o monólogo continua. Na próxima esquina tem a eterna vendedora de flores, e por aí vai, até se transformar em constatação:

Aqui em São Paulo tem trabalho pra todo mundo. Quem quiser, trabalha. Pode juntar latinha e papelão na rua, pode comprar refrigerante no mercado e vender num isopor no engarrafamento, pode fazer o que quiser, que no fim do dia ganha um dinheirinho. Só não trabalha quem não quer, quem quer dinheiro fácil. Mas esses são punidos, pela justiça do homem ou pela justiça divina. Não falha.

No banco de trás, ela pensa em como é furada a teoria. E clichê. Cita os políticos, para continuar no clichê. Ah, os políticos também são punidos, continua o taxista. Vê aí o Quércia, morreu novo. E o Pitta.

Mas e o ACM?, ela arrisca. Ele rebate: Ah, deve ter sido punido também. A gente é que não sabe.

E volta a sua teoria. Aqui, tudo o que a gente planta a gente colhe, pode ter certeza, diz. Vê se tem coisa melhor do que criar os dois filhos e ver os dois passando no vestibular? Se tem coisa melhor que ter cinco veias entupidas e conseguir dirigir até o hospital?

Ela pensa em responder, mas desiste. Ia dizer que melhor seria não ter as veias entupidas. Mas pede apenas que ele encoste à direita.

Tuesday, April 12, 2011

Não me convidaram

Roubaram o cartão de crédito. Roubaram, não. O certo é clonaram. Clonaram o cartão de crédito. O que dá no mesmo, no fim.

Clonaram o cartão e fizeram a festa. Literalmente. Um churrasco. Cerca de mil dólares (era o cartão americano) no açougue, no supermercado, no posto de gasolina. No posto, acredito, foram enchidos os tanques dos convidados. Porque, imagino, o churrasco tenha sido em um sítio, fora de São Paulo. Com um gramado bem verde e piscina, de preferência. Espero que tenha sido bom.


Lembrei de um episódio de Friends que vi muito tempo atrás. O cartão de uma personagem era roubado. Ela descobria a ladra e ia atrás dela. No fim, acaba ficando amiga da ladra, que passa a admirar por fazer coisas muito mais legais com o dinheiro do que ela própria fazia.


Eu gosto de churrasco. Espero que tenha sido bom.

Friday, March 18, 2011

Academia

- Meu tornozelo está coçando. Acho que é falta de circulação.

- Sabe o que é isso? O professor me explicou. É o sangue agindo entre as gordurinhas.

- Mas no tornozelo? Não quero perder gordurinhas do tornozelo! Minhas coxas não estão coçando. Será que não tem alguma coisa pra perder as gordurinhas aqui do meio das coxas?

- Tem. Lipo.

Thursday, March 17, 2011

cisne negro

- O senhor tem filhos?

- Tenho. Três. Mas já estão batendo asas.

Monday, February 28, 2011

Listando

Eu faço listas. Adoro fazer listas. E depois adoro ir riscando aquilo que já resolvi. As minhas listas costumam ter itens como "ligar para o médico tal", "pagar conta de luz", "comprar papel higiênico", "não esquecer o aniversário da vovó" (sim, já esqueci uma vez, e sei que vou pro inferno por causa disso).

Por isso abri um sorriso quando, fuçando um bloquinho antigo, encontrei uma lista especial de coisas a resolver.

Esta era a lista:

- passagem avião Londres - Roma

- trens Itália

- reserva museus

- seguro

- carro Toscana

- hotel Toscana

ai ai, pendências boas...

Wednesday, February 9, 2011

O pombo

Salvei um pombo das garras do capitalismo. Na verdade, foi de uma vitrine das Lojas Americanas. Eu odeio pombos, quem me conhece sabe. Mas, a caminho da farmácia, lá estava o pobre coitado se jogando contra o vidro em meio à bagunça daquela vitrine sem personalidade. Pude ver em seus olhos o desespero com a confusão de cores e produtos sem relação. Cadernos entre liquidificadores, aparelhos de DVD, chocolates e cadeiras de praia.

Entrei na loja e o barulho das asas contra o vidro era alto. Ainda assim, ninguém havia notado. Me dirigi a um vendedor de camisa vermelha que empilhava pacotes de biscoito em uma prateleira.

Com licença, moço, você sabia que tem um pombo preso na vitrine?

Um pombo?

É, um pombo. Sabe esse barulho? É o pombo.

Ahhh, ele deve estar tentando sair, respondeu o ágil vendedor, antes de começar a mobilizar forças e traçar um plano de ataque para tirar o pombo do meio dos cadernos coloridos.

Saí da loja antes que a operação resgate tivesse início, porque, se aquele pombo sai voando perto da minha cabeça, sou eu que morro do coração.

Friday, February 4, 2011

Sonhos

Não vendo roupas, vendo sonhos.

- Frase da vendedora competentíssima que
me fez gastar uma pequena fortuna com três
vestidos lindos de morrer.

Ontem eu estava cansada, muito cansada, e quis me dar presentes. Marquei uma massagem, almocei num lugar que adoro e entrei na loja onde há semanas tinha visto um vestido lindo de morrer na vitrine.

Da última vez que passei pela vitrine, acompanhada do marido, mostrei pra ele. "Lindo, né, amor?". "Uhm...", foi a resposta depois de uma olhada de meio segundo para o meu objeto do desejo.

Ontem passei lá e o vestido continuava na vitrine. Além dele, um aviso de liquidação. É um sinal, pensei. Ele era o último, ficou perfeito e já foi estreado, ontem à noite mesmo. Pra não ficar sozinho, ganhou outros dois irmãos. Não sou nem um pouco consumista impulsiva, entendam. Foi tudo culpa da vendedora competente que vendia sonhos.

Wednesday, January 12, 2011

S.O.S.

Estado de emergência em Nova York. E em Franco da Rocha. Todos unidos pelas catástrofes climáticas. O mundo é um ovo. (E esta foi a reflexão do dia. Grata)