Thursday, June 18, 2009

Começou mal

Sempre tive medo, medo de verdade, do momento em que o carregador de malas americano ia estender a mão exigindo sua gorjeta. Acho que o Pato Donald, numa história em que era carregador de malas, fazia isso. Com autoridade, impondo respeito. Mãos ao alto, que eu quero a minha gorjeta. Dava medo.
Passou um tempão e isso nunca aconteceu com a gente. O coitado do carregador de mala carrega a mala e não pede nada. Mas eis que chegamos a Nova York, e o fantasma da gorjeta veio nos roubar uns cem dólares.
Os guias de turismo avisam. A conta de restaurantes e bares não vem com 10% incluídos, como no Brasil. Mas espera-se, como os garçons ganham um salário miserável, que o freguês molhe a mão do amigo com no mínimo 15% do valor da conta. Pra não pagar de unha de fome, melhor deixar 20%.
A cada conta, nossas cabeças de jornalista fervem pra calcular quanto dá uns 17% da conta (a gente não quer passar por unha de fome, mas não é que estamos com essa bola toda pra dar 20%). Damos o cartão de crédito pra pagar a conta, e eis que chega a misteriosa nota do cartão para assinarmos. Numa linha, o valor da conta. Na outra, o valor da gorjeta, a ser preenchido a caneta. Na outra, o total. Embaixo, a assinatura. O que você faria? deixaria o valor da gorjeta em dinheiro? Escreveria um número qualquer e iria embora? Desmaiaria? pois nós chegamos à conclusão de que, como o cartão já havia passado na máquina, teríamos de deixar o faz-me-rir do garçom em notas. Assim fizemos por dez dias.
Anteontem, fiquei encafifado. Aquilo não estava certo. Se a gorjeta era em dinheiro, por que aparecia na nota do cartão? Será que não estávamos pagando a gorjeta em dobro (no cartão e em cash)? Estávamos. Um simpático garçom tirou a dúvida, e pagamos a nossa primeira gorjeta dentro dos 17% regulamentares. Apenas no cartão, conservando nossas verdinhas. “Fico feliz por vocês terem perguntado!”, ele disse. “Fica nada”, eu respondi. O garçom perdeu quase vinte dólares na brincadeira.
E nós, uns cem.

Tiago

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