Wednesday, February 9, 2011

O pombo

Salvei um pombo das garras do capitalismo. Na verdade, foi de uma vitrine das Lojas Americanas. Eu odeio pombos, quem me conhece sabe. Mas, a caminho da farmácia, lá estava o pobre coitado se jogando contra o vidro em meio à bagunça daquela vitrine sem personalidade. Pude ver em seus olhos o desespero com a confusão de cores e produtos sem relação. Cadernos entre liquidificadores, aparelhos de DVD, chocolates e cadeiras de praia.

Entrei na loja e o barulho das asas contra o vidro era alto. Ainda assim, ninguém havia notado. Me dirigi a um vendedor de camisa vermelha que empilhava pacotes de biscoito em uma prateleira.

Com licença, moço, você sabia que tem um pombo preso na vitrine?

Um pombo?

É, um pombo. Sabe esse barulho? É o pombo.

Ahhh, ele deve estar tentando sair, respondeu o ágil vendedor, antes de começar a mobilizar forças e traçar um plano de ataque para tirar o pombo do meio dos cadernos coloridos.

Saí da loja antes que a operação resgate tivesse início, porque, se aquele pombo sai voando perto da minha cabeça, sou eu que morro do coração.

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