Wednesday, June 23, 2010

Copa e cozinha

Você é brasileiro e tem um restaurante de comida brasileira em plena rua 46 - conhecida como Little Brazil. É dia de jogo do Brasil na Copa do Mundo. Nova York tem brasileiro pra cacete. Brasileiro adora futebol. O que você faz? Pela nossa experiência nas duas primeiras partidas da seleção, absolutamente nada. Não bota a equipe pra funcionar a pleno vapor, não aumenta o estoque de comida e bebida. Em resumo assim bem resumido: nada mesmo.

No restaurante onde vimos o primeiro jogo a coisa funcionava da seguinte forma: todas as mesas ocupadas, o bar inteiro ocupado, gente se espremendo nas paredes e apenas um garçom. Unzinho. Aí este garçom-gênio te entregava o cardápio e, quando você fazia o pedido, ele falava assim: "olha, hoje só tamo servindo picanha". Uai, garçom, então pra que entregar o cardápio cheio de estrogonofe e salmão? A cerveja acabou pelo meio do caminho. Chegou mais - mas estava meio quente, of course. Conseguir uma caipirinha, nem pensar. O único barman, com toda a razão, não dava conta dos 520 mil pedidos. No banheiro, faltava luz. Nada da máquina de cartão de crédito funcionar. E, para completar, o garçom-gênio esqueceu de fazer o nosso pedido para a cozinha. Havíamos chegado uma hora e meia antes do jogo para comer com calma, e, no fim do primeiro tempo, já estávamos roendo as unhas de fome. Questionando o querido garçom, recebemos a seguinte resposta: "ó, vou ser sincero com vocês. acabou a comida. agora só depois do jogo". Fui reclamar com a dona do restaurante, que só deu as caras no meio da partida, quando o caos já havia se formado. "chegou uma picanha novinha agora, vai sair já já". então tá. Almoçamos no meio do segundo tempo. A picanha estava boa, pelo menos. Ou vai ver a fome era grande demais.

No segundo jogo, fomos a um restaurante do outro lado da rua. Como era domingo, chegamos mais cedo ainda, pouco depois de meio dia, e já encontramos uma fila. Debaixo de um sol escaldante, torcedores guerreiros vestidos de pintinhos amarelinhos derretiam pacientemente em frente à porta - fechada. Dali a pouco, aparece uma mulher lá de dentro: "só vamos abrir 13h30", anunciou, completando que haveria "consumação mínima de 50 dólares por pessoa". Agora, explica a lógica de abrir o restaurante só uma hora antes do jogo, quando obviamente a fila já estaria enorme, e ter que servir todo mundo ao mesmo tempo? Desta vez não ficamos para ver o caos se formar. Estava calor demais. Caminhamos alguns metros e, em plena Little Brazil, paramos num pub irlandês, que nos recebeu de portas abertas e cerveja gelada, sem consumação mínima ou espera sob o sol.

E depois brasileiro gosta de contar piada de português.

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